Presidente da Câmara pode ter facilitado a entrada de pessoas contaminadas por COVID-19 oriundas de São Paulo
Foto: Reprodução
02 Jun 2020 - 08:24
  • Por Jornal O ECO
  • Presidente da Câmara pode ter facilitado a entrada de pessoas contaminadas por COVID-19 oriundas de São Paulo

    Ninguém em sã consciência poderia imaginar que, diante de uma situação de pandemia, enquanto toda a população vive momentos de aflição, em isolamento social, confiando em Deus e nas autoridades constituídas para que sejam preservadas e cumpridas as normas estabelecidas para a prevenção e combate ao coronavírus, exatamente um vereador, Presidente da Casa Legislativa, decidisse infringir as Leis, normas e Decretos, para dar cobertura à entrada irregular de pessoas, que desembarcaram em Caturama, altas horas da noite, fugindo das barreiras sanitárias, entraram em Boquira driblando as medidas preventivas de monitoramento, ingressassem na sede do município sem se apresentarem aos profissionais de saúde para os procedimentos de praxe. Nossa reportagem teve acesso aos relatos dos profissionais de saúde, integrantes da equipe de monitoramento da crise da COVID-19 em Boquira, que estiveram no local indicado pela denúncia, abordando os ocupantes do imóvel e comprovando a veracidade das informações, sendo que três pessoas que se encontravam na residência citada, foram notificadas sobre o ocorrido, as quais confirmaram os fatos e se submeteram a testes rápidos, tendo um dos homens testado positivo para COVID-19. A equipe, seguindo os protocolos, reforçou o isolamento em quarentena e seguiu com as investigações, localizando uma adolescente, que já se encontrava na área rural do município, a moça então foi submetida ao teste rápido que também apontou positivo para o coronavírus. A notícia trouxe de volta o pânico na população que há poucos dias vivenciou fatos semelhantes, quando seis pessoas foram contaminadas após contato com filhos da terra oriundos de São Paulo, que participaram de um velório na cidade.

     Na oportunidade, a ação rápida e eficaz da equipe de saúde, conseguiu controlar a situação, monitorando e mapeando os casos, que culminaram com a alta de todos por cura da COVID-19. Ocorre que, o alívio dos moradores não durou uma semana. A atitude irresponsável e até criminosa do vereador, reascende o temor e amplia a indignação da sociedade, na medida em que os fatos vão se tornando públicos. De acordo com o prefeito do município Luciano da Farmácia, isso é tão absurdo, que nem ele e nem qualquer outro cidadão de Boquira, conseguiram digerir tal episódio. “Estamos tomando todas as providências necessárias e urgentes para que isso não se alastre e atinja pessoas próximas aos que chegaram de viagem, e ainda os que tiveram contato com o próprio vereador Tom. Nossa preocupação é que isso ocorreu na quinta-feira (28) à noite, e na sexta-feira(29) pela manhã, ele presidiu uma sessão na Câmara, estando em contato com servidores, assessores, todos os demais vereadores, enfim, estamos tentando mapear todas as pessoas que tiveram contato com os infectados e também com o vereador, para que sejam monitoradas e testadas, uma corrida desesperada para proteger pessoas inocentes que estão expostas pela irresponsabilidade de um agente público. Lamentável”. Desabafou o gestor. Para o Secretário Municipal de Saúde Alan França, “esse episódio está sendo considerado um desastre para todos os profissionais da área, que dia e noite se empenham na linha de frente, buscando proteger a população desse mal. Justamente quando alcançam tão importante vitória que foi zerar o número de infectados no município, recebem a lamentável notícia de que o Presidente do Legislativo, homem público que por conhecer as consequências, deveria zelar pelo cumprimento das normas sanitárias. Ele feriu regulamentações sanitárias, desrespeitando Decretos, incorrendo em crime previsto no art. 268 do Código Penal, podendo responder também pelo crime de desobediência, art. 330 do mesmo Código Penal, além do previsto no art. 132 da referida Lei, ao expor a vida e a saúde de outrem a perigo direto e iminente. Tudo isso é pouco diante da sua responsabilidade como cidadão e autoridade investida em cargo eletivo, cuja missão é fiscalizar o cumprimento das Leis no município. Espero que a Câmara também apure os fatos, para que esse vereador seja punido exemplarmente.” Disse Alan. Nossa reportagem entrou em contato por telefone com o Vereador e Presidente da Câmara de Boquira Tom de Vicente, que ao atender foi comunicado sobre o conteúdo da denúncia recebida pela nossa redação. O vereador pediu para retornar a ligação algum tempo mais tarde, prometendo esclarecer a sua versão dos fatos. No entanto, até o fechamento dessa matéria, nenhuma resposta nos foi dada a respeito. O fato é que, no momento em que o município de Boquira já se preparava para iniciar uma flexibilização de funcionamento do comércio local, por não existir mais nenhum caso positivo de COVID-19, esse episódio revela 02 novos casos da doença entre os que foram trazidos pelo vereador, o que força uma revisão das medidas de isolamento para proteger a população. O jornal O Eco sempre defendeu que os conterrâneos apanhados de surpresa por essa pandemia em terras distantes, caso consigam retornar para casa, sejam recebidos com dignidade, acolhidos dentro das normas de saúde, que sejam submetidos aos procedimentos de praxe, dentre os quais, a apresentação imediata e espontânea à barreira sanitária e às autoridades de saúde, para que suas condições de saúde sejam avaliadas, passando a cumprir a quarentena obrigatória e monitorada. O que ocorreu em Boquira, é um atentado à saúde pública, pois, mesmo que não fosse premeditada a repatriação clandestina, no mínimo os envolvidos teriam que ter se apresentado para as averiguações e medidas legais. Espera-se que os danos sejam controlados e que os responsáveis respondam por seus atos.

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